Manuela.
Aos poucos fui abrindo os olhos, piscava lentamente tentando manter os olhos abertos mas era quase impossível. Eu estava me sentindo fraca, meu corpo estava mole e sentia uma dor enorme na cabeça, onde havia levado a porrada. Não enxergava nada, estava tudo escuro, um breu só e eu estava morta de frio.
Não lembrava de muita coisa, só de estar no porta malas do carro com os braços e pernas amarrados escutando vozes masculinas de fundo. Escutei um barulho de porta abrindo, abri meus olhos no exato momento onde todas as luzes foram acesa e por um momento escondi o rosto por conta da claridade. Minha visão estava um pouco embaçada, pelo o pouco que eu conseguia ver eu parecia estar num galpão, num velho galpão.
Eu estava preocupada com o bebê, graças a Deus não estava sentindo nenhuma dor na barriga ou algo do tipo mas eu só conseguia lembrar da doutora dizendo que todo cuidado meu era pouco.
Eu não queria perde-lô.
Dois caras se aproximaram de mim, um me pegou pelo braço, o apertando e me colocou sentada no chão. O outro desamarrou a corda que prendia meu braço e minha perna, colocou uma bandeja com comida e água no chão e puxou uma cadeira pra perto de mim. Eles usavam máscara, só dava para ver seus olhos e muito mal, era bizarro.
— Come — ordenou.
— Quem é você? — perguntei com a voz falha — por que eu estou aqui? — tossi.
Ambos não me responderam, com dificuldade tirei o talher de acrílico do saquinho plástico e abri a quentinha que tinham trago. Eu estava morta de fome, provavelmente eu estava horas sem comer nada e talvez isso seria o motivo da minha fraqueza.
Comi em uma fração de segundos, após eu terminar os dois caras saíram me deixando só novamente. Sentada na parede encolhi minhas pernas e abracei a mesma, tentava controlar meu nervosismo e medo por causa do bebê, sabia o quanto isso fazia mal para ele e para mim também.
Em um momento sua vida parece melhorar, que todo o caos vai passar e tudo vai se resolver. Mas a vida te surpreende, te surpreende da pior forma possível, te dá um susto imenso e te deixa sem saber se ela vai continuar ou não. Eu tinha sido sequestrada, o pai do meu filho não estava mais aqui e eu estava sozinha novamente.
Desabei ali mesmo, a sensação de fracasso não saia de mim nunca, e agora eu me via em uma situação que eu mal sabia se iria ter solução ou não. E se fizessem o pior com meu filho? E se me matassem?
Eram tantos "e se"..
Dormi em meios de lágrimas, queria acordar e tudo estivesse diferente, que tudo estivesse bem.
O que eu tinha feito para merecer isso tudo?
...
Acordei no susto, abri os olhos devagar e saltei, praticamente, do chão quando vi aqueles olhos largos e esverdeados me encarando. Senti repulsa, medo, raiva quando vi quem era, meus olhos marejaram na hora e meu corpo todo estremeceu.
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