Hoje eu estava um saco de pessoa, até mais do que eu já sou. Meu humor estava na casa do caralho e toda hora eu saia pra ir fazer xixi, já havia uns dias que eu estava assim e me diagnostiquei com incontinência urinária.
Era hora do intervalo e pessoal estava falando do provão, que seria somente do final do ano mas todo mundo se preocupava desde cedo, era o terror do terceirão. Eu até entraria no assunto se não estivesse com uma dor de cabeça horrível.
— Toma, manu — Gusta me entregou o lanche que eu pedi pra o mesmo comprar já que eu estava tendo tonturas.
— Obrigada, Gu — dei um sorriso fraco.
Foi eu dar a primeira mordida no sanduíche natural que a ânsia de vômito veio com tudo e na mesma hora eu larguei o mesmo e corri para o banheiro do pátio. Ajoelhei no chão e vomitei no vaso enquanto Lya segurava meu cabelo.
— Vomitou até a janta de três meses atrás — apertei a descarga e ri.
Joguei uma água no rosto e me apoiei na pia, eu estava passando mal desde ontem a noite e provavelmente seria por causa da pizza que Gabriel e Diego pediram que não me fez bem.
— Amiga, você tá bem?
Não deu tempo nem de eu falar alguma coisa, foi eu abrir a boca e correr para o vaso de novo.
Só faltavam minhas tripas sair pela boca.
Mesmo eu falando que estava bem Lya não deixou eu ficar no colégio, fui obrigada a ir na enfermaria e pedir pra embora mesmo não querendo, não era possível que só eu estava vendo que isso não era nada demais.
— Manuela, já estão vindo te buscar — sorri amigavelmente para Iara, a moça que trabalhava na enfermaria.
Fiquei sentada na salinha de espera umas meia hora mexendo no telefone, eu não aguentava mais esperar e estava quase tendo certeza que Gabriel vinha de ré na contra mão.
Eu iria o xingar muito, sem dúvidas.
Finalmente me liberam e eu atravessei o pátio rumo ao portão de saída e meu semblante fechou na hora em que vi o carro de Diego estacionado em frente a escola. Que diabos ele estava fazendo aqui?
Ele destrancou o carro e eu entrei em silêncio no mesmo colocando minha mochila no colo. Não estava com saco, então rezava para que Diego não fizesse gracinha porque se não era capaz de voar nele.
— Gabriel pediu para eu te buscar porque ele está em reunião, não iria conseguir sair de lá — deu partida e eu assenti com a mão na cabeça.
— Obrigada — disse respirando fundo, o perfume dele estava me enjoando.
Eu não queria nem imaginar o que Diego faria comigo se eu vomitasse no carro dele.
— O que você tem? — me olhou rápido e voltou sua atenção para o trânsito.
— Nada — de olhos fechados encostei minha cabeça no banco.
— Você ta pálida, Manuela — disse firme.
— Não é nada demais, valeu? — o olhei
— Se não é nada demais, me fala — bufei.
— Só enjoo e tonturas, normal.
Diego não disse nada, o carro ficou um completo silêncio e agradeci mentalmente por isso, minha cabeça estava explodindo. Eu não sabia o que era pior, fechar os olhos ou ficar com eles abertos, o enjoo não passava nunca e eu pedia a Deus, a jesus, a família inteira para que eu não vomitasse de novo. Abri os olhos e percebi que Diego tinha mudado o caminho mas ignorei, porque ele podia ter pego um atalho pra chegar mais rápido.
— Você gozou fora, né? — perguntei com a voz tremula.
— Eu pensei que você tomasse remédio — suspirou.
— Só pode ser brincadeira — ri fraco.
Nós fomos em silêncio até chegar no meu prédio, olhar para cara de Diego estava me dando vontade de bater nele até ele ficar preto de hematomas. Peguei minha mochila e a coloquei em um ombros só, não o esperei e logo entrei no elevador apertando o botão do número do meu andar. Eu estava em choque, com medo, com raiva, um milhão de emoções dentro de mim. Diego entrou no elevador e por mais que tentasse disfarçar ele também estava nervoso e sabia que era ele abrir a boca e ganhar um soco no meio da boca no mesmo instante.
Eu não iria pensar nem duas vezes.
Cheguei em casa e fui direto tomar um copo com água para me acalmar, quase não conseguia segurar o copo de tão nervosa. Fui para meu quarto e sentei na cama segurando a caixinha do teste na mão, se ele desse positivo minha vida iria mudar de uma hora pra outra e olhando pra ele eu não conseguia pensar em.. e se ele der positivo?
As lágrimas invadiram meus olhos, eram muitos questionamentos na minha cabeça e se eu realmente estivesse grávida, eu não sabia o que eu iria fazer da minha vida. E meus planos?
Eu queria acabar o ensino médio, cursar faculdade fora do Brasil e com um filho iria atrasar tudo isso. Diego estava encostado no batente da porta me olhando, eu o olhei rápido e enxuguei as lágrimas.
— O que é? — funguei.
— Você vai fazer? — se aproximou e sentou do meu lado. Eu assenti enquanto analisava a caixa do teste.
Me levantei da cama e entrei no banheiro, antes de fazer o teste tomei uma ducha gelada. Demorei um pouco de baixo do chuveiro e pela primeira vez a água gelada não me acalmou como costumava. Sai do mesmo e sequei meu cabelo na toalha e coloquei um short curtinho de malha e um blusão. Encarei o teste por uns segundos antes de tomar coragem e faze-lo.
Era agora ou nunca, meu futuro estava nas mãos disso.
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